Basta um tiro...

Bem, finalmente atualizando. Não sei se esse ficou tão bom, mas também não posso dizer se o conto anterior ficou bom também, então tanto faz. Acho que os leitores vão notar que o elementto femênino está presente em quase tudo o que escrevo, não sei explicar o porque, porém sinto que o próximo post também vai contar com uma personagem marcante.
Espero que vocês gostem do que escrevo, voltem mais vezes aqui e que comentem deixando sua opinião, porque essa é, sem duvida, a parte mais importante do blog, já que não teria graça alguma escrever e ninguém ler.

Bastou que o primeiro tiro varasse a minha perna, para eu perceber que aquela coisa toda não daria certo. Talvez eu sempre soubesse que tentar matar a minha própria mulher na frente de seu amante não fosse dar certo desde o início, mas como eu iria adivinhar que o sujeito também tinha uma arma? Acho que ninguém pode recriminar a minha ignorância exasperada. Não dizem por ai que todo castigo para corno é pouco? Então que seja assim, morrer com um tiro bem dado e ainda por cima dado pelo amante de minha mulher, não seria má idéia.

Toda essa loucura começou a mais ou menos duas semana, quando eu, o corno, percebi que a conta do celular da minha tão amada e adorada esposa, estava povoada por ligações de longa duração para só um único número. Tenho que admitir que aquilo me deixou desconfiado, porque de primeira ninguém conclui que está sendo traído, por mais que essa seja a conclusão mais obvia para a situação. Eu sou um cara tranqüilo e como nunca havia passado pelo constrangimento de ser logrado do meu direito de ser o único homem a se deitar com a minha esposa, não senti ou percebi que a desgraçada estava me passando para trás. Ela, em momento algum, demonstrou que estava me traindo, muito pelo contrario, o tratamento dispensado a minha pessoa só fez melhorar, eram caricia a todo momento em que nos encontrávamos juntos, conversar mais sacanas antes de nos “deitarmos” e beijos apaixonados em publico, como se ela quisesse dizer ao mundo que eu era dela e ela era minha. Deixei me levar por tudo isso. Não deixei que meu coração fosse tomado por sentimentos ruins em um só instante, e estava cada vez mais confiante nos sentimentos que me reinavam a mente.

Como é tolo o coração que ama. Dei tudo o que pude aquela mulher. Se fosse preciso iria até o inferno só para vê-la sorrir mais uma vez, eu iria, e iria de cabeça descoberta e peito nu a espera de mil lanças de fogo. Não me considero um ser humano displicente e muito menos alienado, e é por isso que acredito que fui enganado e não me deixei enganar como tantos outros maridos.

Essa situação de fogo sem queimar foi-se alongado por duas semanas até aquele fatídico dia em que vi a maldita conta jogada encima da mesa. Algumas pessoas diriam que seria melhor não ver, porque “o que os olhos não vêem, o coração não sente”, mas eu sei que isso é uma mentira deslavada e que foi melhor que eu visse logo a conta que denunciava os atos criminosos de minha companheira. Meu Deus, imagine só por um momento se ela, a desgraçada sem escrúpulos, sem alma, sem coração, desse cria do meliante? O que seria de minha pobre alma? Ela estaria em pedaços, eu tenho certeza. Porque não sou homem de tirar a vida de quem ainda nem nasceu e também sei que iria amar essa criança, mesmo sabendo que ela não era fruto de meu amor e nem carne de minha carne.

Abri a conta sim, mas não vi nada demais, então fui indaga-la sobre o ocorrido. “Querida, que ligações são essas aqui na conta do seu celular?” A desalmada ficou calada. Foram aqueles dez segundos precedidos da resposta “Que ligações?!”, que me fez começar a ter duvidas. Ligamos para a operadora, ou melhor: eu liguei para a operadora, porque ela se absteve do caso e disse para eu não dar importância era só não pagar a conta e contestar, mas eu liguei e contestei diretamente com a operadora que presta o serviço telefônico. A resposta da que eles me deram foi mais convincente do que a da minha esposa. “Desculpe pela demora senhor. Aconselhamos que o senhor entre primeiro em contato com o telefone em questão, para ter certeza de que não ouve realmente um contato com a parte, para que depois o senhor nos ligue novamente afim de contestar.” Desliguei o telefone sem ouvir o muito obrigado pela preferencia, afinal de contas ela havia acabado de esfregar a traição de minha mulher na minha própria face.

Achei por bem seguir a sugestão dada pela telefonista. Comecei então a caçada, no mesmo dia liguei para o telefone em questão, usando um telefone publico para não chamar a atenção. “Aló! Pode falar – a voz era grossa – Não vai falar nada não seu babaca? – ele ainda insultava – Vai se ferrar, ficar passando trote é coisa de moleque!” Minha garganta já estava seca quando ele desligou o telefone. Eu ainda não podia concluir nada só com aquele telefonema. Resolvi ligar usando o telefone dela, assim ele poderia dar algum passo em falso, poderia até atender o telefone já dizendo algo que o incriminasse. Esperei que a mulher a quem um dia eu chamei de minha, entrasse no banho, então fui até o celular e troquei o chip conspurcado pelo meu chip ainda virgem de traições. Mais uma vez liguei. “Amor? Não fala nada, acho que seu marido tá desconfiado do nosso rolo. Alguém me ligou hoje e não falou nada, to achando que foi o idiota! Não me liga mais não com teu telefone, deixa para ligar do orelhão. Te amo. Te espero hoje lá no nosso ninho de amor.” Desliguei o telefone, não podia mais ouvir nada.

Quando ainda não era casado, eu me perguntava o que levava uma mulher a trair seu marido, porque sempre acreditei que se você não ama uma pessoa, deve se separar dela o mais rápido possível, afim de evitar sofrimentos. Me deu nojo ouvir aquele português mal falado, e ainda por cima com uma voz grosseira e sem harmonia, mais parecendo a voz de um ogro rouco. O que será que ela havia visto nele? Beleza? Não pode ser, eu mesmo não sou tão feio ao ponto de merecer um chifre. Minha cabeça estava inundada de perguntas gosmentas e sem sentido.

Não demorou muito para eu passar os estágio. Sai do corno chorão ao corno ofendido e vingativo. Durante uma semana persegui cada passo da meretriz procurando flagra-la em seu ato de destruição do nosso casamento. E durante uma semana nada vi, talvez porque liguei e eles estavam tentando me despistar, mas não iria ser tão fácil. Eu estava decidido: iria matar todos os dois.

Um belo domingo, depois da missa, ainda me pergunto como ela podia freqüentar a missa ao meu lado e depois ainda se confessava. “Amor, tenho que ir até a casa de uma amiga que está com a mãe doente. Liga não, tá bom?! Deixei o almoço na geladeira.” Ela estava começando a absorver o português hediondo do desgraçado. Não fiquei ali parado, segui-a dentro de um taxi. Pelas minhas contas ela não foi muito além de cinco quarteirões da nossa casa. Como ela podia me trair bem ali? Parou o carro de frente a uma casa rosa, mas entrou em um prédio que ficava enfrente. Depois que entrou, a porta não se fechou como deveria e eu entrei atrás. Subi as escadas me guiando pelo barulho que os tamancos dela faziam na escada de pedra, tamancos esse que eu havia dado. Parou no terceiro andar.

Não podia fazer aquilo, eu pensava, não era um assassino. Mas me lembrei da voz de monstro no telefone, e nada no mundo seria capaz de aplacar a raiva que sentia dele, eu tinha que mata-lo. Deixei passar uma hora e então entrei no corredor de paredes brancas. Passei enfrente a cada uma das portas, eram 6, e das seis cinco tinham nomes femininos, nomes de velhinhas, as mesmas podiam ser mães doentes de amigas. Mas o sexto nome não me deixou outra escolha: João Carlos Ribeiro e Costa. JC, João C., J. Carlos, de fato não importava muito. Toquei a campainha depois de tampar o olho mágico com uma fita crepe. Passos. “Quem é?” A voz dela. “E do correio senhora.” Nunca havia disfarçado a voz.

Aquele era o momento. Ela abriu a porta e me olhou bem de frente. Estava com os cabelos soltos, um roupão de seda rosa e um sorriso alegre bem no meio do rosto. O sorriso se desfez ao ver que não era bem o correio que estava ali. Minha mão tremia, mas ainda sim levantei a arma, e para meu espanto, ela não se mexeu, acho que já esperava algo do tipo. O tiro saiu seco e fez eco por todo o corredor. Eu deixei uma lágrima cair. Lá dentro ele deve ter ouvido, qualquer um ouviria. Correu de um cômodo qualquer até o quarto, provavelmente era o mesmo no qual ele acabaram de ter suas intimidades de “casal”. Andei lento até a porta do cômodo maculado pelos crimes de adultério. Agora arma não balançava mais, estava firme. Quando cheguei a porta ouvi outro tiro e senti a perna arder, mas tinha certeza de que o tiro não havia saído da minha arma. Olhei para perna e vi que ela sangrava então cai no chão.

O mundo já não estava mais em camera lenta agora. Eu estava ferido, o osso que sustenta meu corpo havia se partido e eu estava jogado ao chão, com meu inimigo de faroeste do outro lado da porta só esperando para vir me dar mais um tiro.

Então é assim que tudo está terminando: eu jogado ao chão e ele me esperando. O que vai acontecer não é mais da minha conta. Já dei a ela o que merecia. Agora, talvez seja eu que mereça morrer. Só me pergunto se ela vai estar lá do outro lado me esperando

Brasas

Nota da edição (o pretenção): Primeiro, gostaria de pedir desculpas por estar meio afastado do blog e não dar à ele a devida atenção que a coisa toda me pede. Mas juro que estou correndo atrás de outros autores e de um layout melhor, porém o tempo não está me permitindo grandes feitos...
Enquanto isso...



Brasas
Acho que a primeira vez que a vi foi atravessando uma dessas ruas de grande movimento. Era sem duvida um dia de muito sol, porque havia luz quando ela passou – ou será que a luz emanava dela? Seus cabelos eram de um vermelho vivo como as brasas de uma fogueira de inverno que, mesmo sofrendo com os ventos frios, resiste, diferente de todos os cabelos vermelhos que já havia visto por ai nas cabeças das outras rebeldes que pintam suas cabeças da mesma forma. Mas ela não era uma simples rebelde, dessa que você encontra com seus quinze poucos anos. Com toda a certeza do mundo não tinha quinze anos, idade em que as espinhas quase pulam da cara e o corpo ainda é meio anorexo. Pelo traçado do corpo, a forma de andar em seus sapatos de salto alto e o jeito com que carregava sua bolsa de alguma grife, devia ter no mínimo vinte cinco anos e no máximo trinta, o que para min é a fase áurea de um ser humano do sexo feminino. Dessa primeira vez não consegui ver muita coisa, até porque o sinal não fica fechado tanto tempo assim e a rua não é grande como uma passarela aonde ela pudesse desfilar para min mostrando seu corpo e rosto, dando no final uma leve virado voltando de onde veio.

Como havia sido apenas um pequena visão do céu e de um de seus anjos, não levei muito em conta toda aquela cena digna de cinema e simplesmente esqueci que ela, a falsa ruiva de cabelos em brasas, existia no momento em que os carros que estava atras do min começaram a buzinar e a xingar palavras chulas ordenando que eu fosse para o inferno ou dizendo coisas feias sobre o passado de minha mãe. Praticamente foi obrigado a sair de meu transe e seguir a ordem das coisas: carro anda, carro para, carro anda, carro para...

Passaram-se duas semana entre o primeiro encontro –se assim posso chamar aquele episódio – e o segundo. Não deveria descrever essa passagem, porém acho que ela foi decisiva para toda a história. Eu estava comprando livros em uma livraria perto do trabalho, como sempre faço todo início de mês, e de repente, enquanto eu estou lendo o prólogo de algum livro do King que falava sobre um pistoleiro qualquer, a falsa ruiva passa pela porta que se abriu automaticamente para que a deixasse passar e caminhar até alguma sessão perdida destinada a livros sobre culinária. Me controlei, não podia simplesmente ficar seguindo uma desconhecida pelos labirintos de uma livraria, mas como o corpo nem sempre segue o que o bom senso manda, acabei atrás dela tentando chegar mais perto para sentir o cheiro doce que seu corpo parecia emanar, e por falar em emanações: sim a luz saia dela. Sei que fui um completo idiota, mas só o fato dela estar perto de min, fazia com que meu corpo formigasse e meus pés não dessem mais a impressão de tocar o chão. Ela displicente ao calor que meu corpo produzia, pegou mais um livro, que o titulo era “Como preparar um bom assado.” Sem cinismo, mas ela não precisa de dicas para preparar um assado, basta que coloque os seus olhos cor de mel encima de min e em um minuto vou deixar de ser um dos melhores fotógrafos da cidade para virar cinzas.

Não havíamos trocado uma só palavra, nem ao menos um só som, e ainda assim eu estava completamente destruindo por não poder ter ao meu lado aquele anjo de cabelos em brasa. Não sei se deveria me questionar isso agora, depois que as coisas acabaram como acabaram, mas sempre achei os anjos eram loiros e do sexo masculino, de fato não importa.
Durante alguns dias, vivi somente com o propósito de encontra-la por ai, quem sabe tomando um café com seu marido ou dançando em algum bar de lésbicas. Não importava muito o que ia me fazer deixar de ter pesadelos, eu só não queria pensar mais nela, porque no fundo de meu coração, que um dia se abriu como aquela porta automática só para deixa-la passar, eu sabia que nunca iria ter mais que um encontro sem palavras. Declaradamente eu estava dependente da idéia de que não seria feliz se não a visse mais uma vez.

Em uma tarde de chuva, meu editor liga me ordenando uma saída até as ruas, que estavam alagas, para que cobrisse um acidente de carro que aconteceu em uma dessas ruas movimentadas – não, realmente não sou um grande fotografo e nem trabalho em uma grande revista, desconsidere o que você leu antes, eu só estava empolgado com a escrita. No caminho fui escutando a rádio de notícias mais rápida e frescas que pode existir: a freqüência da polícia. Vários acidentes estavam sendo notificados, mas nenhuma voz de mulher velha e mal amada, anunciava o acidente que eu estava para cobrir. Deixei como estava, nunca gostei e saber o que vai acontecer, gosto de chegar na cena e ver as tripas para fora e o cérebro escorrendo pela calçada, porque é isso que mantém meu emprego.

Chegar a uma cena de acidente de carro não é a coisa mais fácil quando se está em uma rua movimentada, porque uns param para ver o que aconteceu, enquanto outros só querem ir para casa e não se importam se quem está lá deitado é seu amigo, namorado ou amante – alguns até rezam por isso. Eu só tinha em mente que deveria ter a melhor foto e me aproveitaria do fato de que não haviam outros fotógrafos urubus encima da carne fresca que eu iria comer. Achei estranho nem os motoristas estarem demorando para ver o que aconteceu, e isso significava que a imagem devia ser bem forte. Ouvi alguém dentro de um carro dizer com uma voz de notável pena, algo sobre o fato de a vitimar ser muito jovem. Como se os jovens não morressem.
Quando finalmente cheguei perto do corpo que estava jogado no chão quase tive que me segurar no senhor que estava ao meu lado. Não conseguia acreditar que a pessoa que estava ali jogada, morta, com as gotas de chuva caindo sobre seus olhos abertos, era realmente quem eu estava vendo. O que os meus olhos viam, não eram aceitos pelo meu coração – que agora está fechado. Minha mente começou a criar pequenas ilusões para me fazer parar de sofrer, comecei a ver traços que não se assemelhavam a realidade, só para poder negar. Mas não teve jeito era realmente quem eu não queria ver: a ruiva de cabelos em brasas.

Tudo era meio engraçado naquele momento, sei que não deveria ver dessa forma, mas só o fato de que eu não teria mais que me preocupar com a influencia que aquela estranha teria sobre min, fazia eu me sentir mais alegre. A brasa já não queimava mais e agora não havia mais cheiro doce, só o cheiro da vala que estava aberta do lado dela. Também é engraçado que ela não tivesse nenhuma escoriação aparente. Não havia sangue e tripas para todos os lados, nem um pedacinho de cérebro ao menos.

Não me julguem mal por não ter ficado com pena daquela pobre mulher, mas agora minha vontade era gritar e agradecer ao homem que havia feito aquele milagre. Procurei o motorista assassino. Como de praxe, ele estava sentado no meio fio chorando e dizendo que a culpa não era dele, que não tinha intenção de matar ninguém e que tinha sido ela quem atravessou a rua correndo com o sinal aberto. Quando cheguei perto dele, só consegui dizer uma coisa: “Obrigado!”