Mais um cigarro, por favor

Luz vermelha e quente, brasa
Ao sabor das sombras acinzentadas, fumaça
O peito arde ao inalar
A vontade faz doer a cabeça

Cinco minutos dentro de cada cigarro
Vinte cigarros dentro de cada Mês
Um maço por dia de cada semana
Quatro semanas de cada mês
Quatro segundos puxando e soltando
Fumaça contabilizada

Tenta-se largar, as mãos tremem
Continua-se a tragar, o peito reclama
Hábito feio, pessoas reclamando, o dia passando em círculos
E a vontade, pesada como uma bigorna

Fardo quente e mal cheiroso
Prazer de um louco podre
A verdade em pequenos momentos
Agendados pelas mãos segurando um cigarro

Almas de fogo

Existe algo dentro de mim,
Algo que não sei explicar.
Como pedras que rolam,
Pensamentos tentam escapar
e por entre meus olhos a imagem flui.

Quanto de tudo isso você pode sentir?
Você pode sentir?
Mesmo de ouvidos fechados, o quanto você pode escutar?

As sombras se fazem aparentes
Mostrando os dentes de uma realidade morta.
Eles conseguem me ver?
Sou tão brilhante quanto mil super novas.
Veja as imagens fluindo de meu olhos.
Veja o mundo com os meus olhos.

Não a tempo para descanso.
Sou de aço, meio forte como o tempero
Agridoce que carregamos no suor.
Lembra do gosto de meu suor?

As imagens podem ir,
Mas quanto de tudo isso vai ficar?
Ainda não te escutei dizer
se pode ver as imagens que saem de mim

Não fique calada, não se cale nessa estrada,
Não sei para onde ela pode nos levar.
Não se preocupe, eu brilho como mil sois de verão
E o caminho vai ser claro até o escuro infinito.

O homem vazio no escuro

Acorrentado ao nada
Preso no vazio de dias sem motivos
Numa vida sem propósito
Existência antimaterial
Buscando o sem sentido
Entendendo o ilógico
Calculando sobre átomos
Relevando sentimentos

Es a porta
Lá está o sábio
Na cabeça a pergunta
Coração cheio de um nada negro
Dúvidas, ânsias, indagações
Verbos sem ação
Por que e quando
Há respostas não ditas
Maldito conhecimento descabido
Sagrada Ignorância do medo

Dor apõe sobre o peito
Sem respostas, não há nada
Apenas mais um fracasso
Em meio a tantas vitórias perdidas
Culpado e humilhado se retira
Retornando ao caminho
No som do vazio, escuro
Tilintando as correntes

Sobre meu pesadelo com a morte

Talvez seja o ultimo suspiro,
Não se sabe ao certo
A dor turva os olhos
Momento de reflexão
Reflexos da minha vida

Sim, o peito dói
A face treme e as mãos suão
Enquanto o ouvido se cala
A boca abre a vogal que escuta o tempo
Não passa, não para
Já não dói, só há o desespero
Calado e tenso

Apego-me a crenças
Desfaço o passado pedindo perdão
Desculpas por erros seus
Gratidão pelos acertos meus
Sentindo o sossego se aproximar
Ele vem, constante

O grito sonoro
Acordo com o acorde
Peito dolorido, mão suada
E o sorriso de alivio
Ainda estou aqui

Estrada longa

À sombra de algo cativo
Procuro em meio a pensamentos
Escolhas tortas para problemas certos
Imaginando pequenas falhas
Perpetuadas na malha do destino

Monstros criados por mim
Exibem o real valor dos sentimentos
Que carrego em meu coração
Culpa, vergonha, resentimento
A alma doente sintetizando
Exponenciando minhas atitudes
Varrendo o passado
Caçando vestígios para terminar a trilha

Desesperado, colhendo frutos podres
Fico sentado, em estado relaxado
Sempre existirá o conforto do esquecimento
Porém a alma recuse
Acusações são necessárias
Assim me mantenho na trilha

O tempo esgotará
Ainda estarei aqui
A trilha pode ser comprida
Pelo caminho da culpa
Vivendo a culpa
Sentindo vergonha
Esperando pelo resentimento

Atena e a arte da justiça

Cem Mil flechas aos que querem meu reino,
Que o sabor do sangue seja doce e cremoso,
Que as lagrimas escorram e limpem a boca.
pois é suja, as dos homens que tramam contra min.
Agora que vingados, tragam a mim seus pecados
E, quem sabe, os perdoarei, se não perpetuo a sentença
e as flechas voltarão a fazer seu balé no céu
Indo de encontro aos corpos ou ao nada.

Mares de fúria pesam sobre mim,
Porém ainda acho pouco, e não sinto pena
afinal não fiz alarde sobre as flechas?
Não disse o que ocorreria aos traidores?
foi sabia a minha decisão
Disso sei mais que qualquer um
Caminho nas trilhas da justiça e justiceiro sou,
Pois de fato sentencio.
Quem haverá de sentenciar, se não eu ?
Quem haverá de punir?

Não preciso ser julgado, por julgador ser.
Assim me faço acima da lei
E minha espada é a ordem.
Sou a lei que trabalha com a ordem
Não a lei que se referencia a ordem
Quem há de me julgar?
quem julgará aquele que julga?

Muro de Berlim

Posto de frente ao memorial de ilusões
Que erguemos e nome de falsos ideais.
Hoje choro, me descabelo, me arrasto
Na lama que os pés descalços,
Daqueles que ajudaram na construção,
Promoveram com o suor de seus corpos cansados.

Presos! Estamos todos, presos.
Do lado de cá ou do lado de lá, tanto faz.
É o muro separador!
É o muro da vergonha!
É o muro da dor!
Sofrida por aqueles que viram seus corações separados.

Mas um dia há de cair,
Explodido pelas mãos e mentes
Daqueles que ajudaram,
Para a dor de quem governa e manda construir
Um muro que serve para destruir.

Simetria Cibernética

As teclas gemem enquanto digito.
Talvez seja só o som do cérebro eletrônico funcionando
Ao passo que o pé físico força a estante que o segura.
O som é constante, mesmo com o vaco da mente.
E se propaga nas longas estradas virtuais
Nas quais meus pés físicos, só tocam por um encanto
Chamado script

Quem sabe um dia, não largo a areia vetorial
E surfo nas ondas magnéticas.
Afinal de contas, não foi para isso que a prancha de metal foi criada?

Ando guardando arquivos mortos demais
Sinto que posso até montar um simétrico para coisas que não quis deletar
Penso que foi por Ter medo de achar valor no lixo
E um dia me jogarem fora, pois já não tenho mais valor também
Quando se apaga um bit, se perde uma lembrança
Já que não há mais na mente para guardar os sentimentos analógicos

Se eu perdi a essência humana?
Não! Longe disso.
Apenas a digitalizei em busca de um novo ideal.
A quem (ou a o que) chamo de: “Simetria cibernética”

Dia de lindas estrelas

Canto, só, em um pequeno canto da sala
Com o olhar fixo em uma pequena janela fechada
Esperando ver o infinito invisível.
Sento na esperança de poder me levantar,
Mas ainda assim estou cansado
De não fazer nada.
A porta se fecha para eu sair.
Caminho pela calçada feita de grama,
Tentando não pisar no jardim de pixe,
Pois assim diz a placa que não tem nada escrito.
Olho para o relógio sem ponteiros
Que me diz faltar um pouco pra daqui a pouco.
Chego a estação, que não tem trens
E me transporto de avião, por um mar de sonhos.
Talvez só esteja voltando para casa?!
Talvez só queira cantar em um canto.

Amargo café das seis

Quando o desejo de vingança é grande
Cabe a razão dizer a alma que o ferimento não irá sarar.
Mesmo que se lamba o sangue envolta
E se faça réquiem aos Reis do nada.
Pois é certo de que nem sempre somos feitos de terra.
Quando não, nossa essência é a moldável água barrenta,
Assim não se faz dura a consciência,
Acabando por achar qualquer erro banal e sem sentido maldoso.

Não tendo nada à ter ódio,
Só nos resta a doce desculpa do ser que não errou.
E ela vem, mesmo que a burro e sem sela, mas vem.
O medo nasce quando o tempo de espera é grande e o coração vacilante.
Já que nem todos estão dispostos a pedir perdão.
É ai que o amargo café das seis chega.
Com ele vem as lágrimas atrasadas e a risada fora de hora.
Pode-se até pensar que é proposital, mas não, é fatal!

Olhamos para os fundos dos olhos, mesmo que infinitos.
Pensamos que era melhor não existir rancor e nem pedidos.
Os tiros foram dados em momento de raiva repentina.
A mesma que cega os sábios e dá vida aos monstros.
Quem vamos enganar depois da derrota admitida.
Ainda vai sobrar dúvidas e sopros de hálito quente no vidro frio.
As desculpas vem com o tempo, porque sabemos que ira perdurar o momento.
O vazio do momento que deixamos
Quando seguramos o copo de café amargo e sem leite.

Ao casal em leito

Saiba que a guerra entre nós, me fez adoecer
E agora as horas me parecem longas demais
Fazendo meus dias mais tristes e contaminados por rancor
Enquanto vejo os outros à darem risadas.
Podemos não saber o preço da paz,
Mas achamos justo barganhar a morte com o arauto
Que nos sentencia à dor eterna dos corações vazios
E repletos de ódio e raiva, as quais nutrimos sem esperanças

Entenda que os gritos desferidos
Só serviram para criar feridas
Que não sabemos se serão fechadas ou saradas.
Porém as sintamos doer ao contato das lagrimas salgadas.
Ao declinar-se por nossa face enrugada e enegrecida.
A quem o tempo fez questão de cobrar seu lucro.

Aprenda quanto tempo levam as tortas para assar.
Assim, quem sabe, você me contemple com seu doce,
Tentando apagar o amargo que trouxe aos meus lábios
Que lhe pede, o que lhe é de direito.
Como Deus faz com as almas perdidas.

Levanta e corre comigo por caminhos tortos
Na vã tentativa de deixar para trás as palavras mal ditas.
Que há tanto proferimos sem pensar o quanto custavam
E o fim chegam a nós com a morte silenciosa.