Tortura

Em uma sala escura e úmida, um homem está sentado em uma cadeira de ferro gelada. Com os olhos castanhos como avelã, perdidos na poeira olhando pela única ligação que aquele quadrilátero tem com o mundo exterior, uma pequena janela fechada por barrar de aço grosso como o pênis de um afro descendente. Sua pele exala o cheiro do suor velho e seco que ele produziu na noite anterior, o cheiro era uma mistura de medo com histeria. Mas ele mesmo não era capaz de sentir seu cheiro, pois tinha o nariz quebrado, dando ao seu rosto um ar cômico que só um palhaço de circo itinerante pode ter. ele olha mais uma vez por entre as barras de aço, mas nada vê além do céu cinza predestinando o dilúvio que viria daqui a pouco.

Seus pensamentos metrológicos são interrompidos pelo barulho da porta se abrindo atrás dele e de sua cadeira, mas preferiu não se virar e ver quem era. “Vai ser melhor se não puder ver o rosto desses canalhas”, pensou em sua mente, o único lugar que eles não podiam tocar com seus dedos imundos. Os passos foram se aproximando cada vez mais, e cada segundo que se passava entre uma passada e outra era para ele como se um milhão de anos atravessasse seus ossos e o fizessem lembrar-se de cada coisa que havia vivido até aquele maldito momento. Sem fazer força, foi se lembrando de como havia chagado ali, uma emboscada no campo de batalha em alguma região da Europa velha, talvez no campo de algum fazendeiro que um dia cultivou cereais onde agora a maior guerra de todos os tempo estava sendo travada. Não que ele sentisse medo ou lembrar daqueles vinte ou trinta dias em que foi submetido as piores técnicas de tortura que a mente humana pode imaginar, medo não era nada em um lugar como aquele. Talvez nem mesmo a raiva era algo que o pudesse tomar agora. O único sentimento que se passava por sua cabeça era o cansaço, definitivamente ele estava cansado de tudo aquilo, de toda aquele guerra, que na verdade não podia entender muito bem o motivo.

Por final, só restava relaxar os músculos e partir para o outro mundo que havia criado em sua mente para fugir dos momentos em que seu corpo sofria. Foi aos poucos largando os sentidos que o prendiam a esse mundo de carne e concreto, esperando que lá, na cidade de vidro, perto de seu córtex central, sua espesa o estivesse esperando como na noite anterior e seria bom que ela tivesse colocado a crianças para dormir mais cedo, essa noite ele queria “aproveitar” as estrelas que estava no céu para fazer amor na varanda. Mas mais uma vez seus pensamentos foram interrompidos e dessa vez não era o barulho da porta se abrindo. Uma voz o chamava de volta para a realidade e não era a voz de um daqueles nazistas de merda, era uma voz amiga dizendo: “Acorda capitão! Sou eu o Cortez. Agente veio te buscar! Acorda porra!” Então ele sorriu, porque sabia que a hora de voltar para sua vida sem esposa nem filhos havia chagado.

***

só uma pequena pausa antes de acabar de postar o conto Lotus.

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